Quando tudo acontece de novo





     Nada mais monótono que uma lista de compras. Ovos, cenoura, papel higiênico, algumas besteiras para saciar meu coração sem rumo e um suco de laranja para fingir que ainda sou meramente saudável. Mas até então tinha a opção entre os dois mercados do final da minha rua para transformar essa rotina semanal um pouco menos repetitiva. 
      Cheguei naquele sábado de manhã com uma roupa casualmente confortável - mais conhecida como pijama- e meus óculos para fingir que minha cara não estava numa situação tão crítica quanto realmente estava. Decidi entrar no mercado cujas paredes são grafitadas por um grupo que ali ficava todas as noites inventado arte e falando sobre algumas ideias filosóficas, e tenho que admitir que por mais que o dono do mercado não ficasse satisfeito com esses desenhos nas paredes, ao meu ver aquela rua ficou bem mais colorida e animada com a presença daquelas figuras coloridas e um tanto abstratas. Ao entrar procurei a primeira cesta e fui pegar meus enfadonhos produtos para uma enfadonha semana. Após escolher "detalhadamente" um a um, paguei as coisas e sai com pressa daquele mercado, louca para chegar em casa, preparar um brigadeiro bem quentinho, e assistir a maratona de Game of Thrones por algumas longas horas. Meus planos, entretanto, foram frustados quando esbarrei naquele grupo no qual havia citado anteriormente e eles me chamaram para zonear com eles. Sim, usei o termo zonear, mas isso foi como eu defini o que eles faziam, e não como eles me convidaram de fato. Havia uma garota de cabelo rosa pastel, duas garotas extremamente idênticas, um cara com dois piercings no nariz, e ele, John, um cara que ao ver parecia super quieto, e por algum motivo inexplicável, esse fato me fez despertar uma vontade enorme de conseguir despertar seu outro lado comigo.
  Desci alguns degraus e fui de encontro ao grupo. Eles me chamaram para passar uma "noite inesquecível" porque o cara ali do lado (apontaram para John) me achou bem bonitinha. Apesar do elogio um pouco descabido, resolvi abandonar minha programação e, por mais perigoso que fosse,  me arriscar um pouco, Quem sabe aquilo trouxesse um pouco de felicidade para meu pequeno e frigido coração. Deixei minhas coisas no porta malas e segui viagem com a trupe do barulho. 
         As vezes era meio inevitável não se sentir bem naquele meio, afinal, eu não conhecia ninguém ao ponto de estar soltando frases engraçadas e aleatórias, mas bebi um pouco de alguma coisa que estava no copo da Patrícia, a garota do cabelo rosa pastel, e consegui ser um pouco menos insegura ao falar alguma coisa, mas tinha que admitir que não estava aguentando olhar para os lábios de John e me segurar, o que era estranho porque há anos não sentia isso, e o mais estranho é que aconteceu do nada e por nada.
Alguns minutos depois ouvi alguém falar que já havíamos chegado e a partir desse momento todos começaram a descer do carro. John estendeu a mão para me ajudar, e eu aceitei, morrendo de vergonha mas aceitei. A partir desse momento o rumo da história mudou, conversamos por um bom tempo e rimos muito, era estranho perceber que ele parecia tanto comigo. Curtimos as músicas que estavam no Ipod de algum deles e ficamos observando as luzes da cidade. Me senti infinita por estar ali.
        Depois daquele emocionante dia minha vida mudou tanto que não consigo acreditar até hoje. John me mandou algumas mensagens no dia seguinte, e no dia seguinte, e no dia seguinte do dia seguinte, e o inevitável aconteceu, ele virou o meu raio de sol. Acordar pensando em alguém é como observar a chuva enquanto come pipoca e sente muito frio, você sabe que aquilo é bom mas não é sempre que você pode fazer aquilo devido a alguns fatores que te interrompem (tempo, falta de pipoca ou falta de chuva e frio), mas quando acontece você sabe que vai ser tão bom que esquece todos os seus afazeres e vai curtir aquele momento que talvez demore para acontecer novamente. E assim foi o meu amor por você, John.
   Numa sexta de dezembro fomos passear mais uma vez pela cidade com o som alto e o coração entrelaçado por laços que John deixou em meu coração, que agora estava mais confuso do que qualquer coisa. Chegamos ao alto de alguma das montanhas que cercavam aquela linda cidade, e foi ali que eu percebi que tudo que vivi valeu apena. Não eram as pessoas, não era a música, não eram os jogos engraçados da madrugada enquanto todos estavam super bêbados, era você, e apenas isso transformou todas as noites perdidas com lágrimas jogadas no chão em cinzas, o que era engraçado e ao mesmo tempo muito bom, porque sentir tudo aquilo de novo como se fosse a primeira vez era tão bom. Senti que podia viver aquele momento com John para sempre. 
   Não houvera sol que aquecesse tanto como o daquele dia cujo seus braços envolveram minha cintura, não houvera lua que iluminasse tanto quanto naquela noite que John me colocou contra a parede e beijou meus lábios de tal forma que até hoje não consigo descrever em palavras. Parecia que nada era tão intenso, que nada era tão majestoso, que nada era como ele. Que nada era como nós dois.


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