É que as vezes ainda sou a mesma...

 

   Seis anos se passaram. Os gloriosos e odiosos dias no Ensino Médio finalmente terminaram - e pensar que por um segundo com 15 anos eu realmente achei que aquele momento horrível duraria pra sempre- e agora já estou no 3º período da faculdade. É estranho pensar que o tempo passa tão rápido assim, e juro que as vezes, só as vezes, eu me sinto uma tiazona por ver que as crianças não conhecerem câmeras analógicas ou não escutarem Xuxa só para baixinhos 4. Todas as vezes que volto para casa a fim de rever meus parentes é a mesma melancolia interna e chatinha que desce pela minha garganta e me faz lembrar de que em cada parte da minha cidade natal havia um pedaço de mim, por mínimo que fosse, como por exemplo, meu primeiro beijo debaixo de uma arvore velha perto da escola. Sei que muitas coisas em mim mudaram e todos me dizem isso, e apesar do meu cabelo curto ainda ser o cometário mais falado sei que não é só isso que importa de fato. Usava 34 nos jeans, por exemplo, e agora já posso usar um 38 sem problemas. Já não choro mais pelo Pablo também, meu primeiro namorado que prometeu voltar e que depois disso nunca mais o vi. É engraçado perceber que aquelas dores de uma jovem garota não se comparam com os surtos de uma mulher de 23 anos.
   Ao chegar na minha casa antiga sempre rio por achar engraçado o fato de que as casas da vila que morei a minha adolescência toda eram todas grudadas e pintadas num tom lilás, tão monótonas quanto meus dias nas férias, mas, apesar disso, sempre gostava de passar um mês inteiro sem fazer nada. É, parece que isso não mudou em mim pois ainda adoro ficar vegetando em meus recessos universitários, algumas coisas não mudam mesmo. Olhar fotos, minha cama e as roupas que eu usava também já virou um ritual todas as vezes que eu volto para lá, e, apesar de nunca admitir isso pergunto para mim mesma como alguém me deixava sair daquele jeito. Nossa, como eu mudei. Cada foto, cada blusa, cada olhar, memórias constantes vinham a mim como um furacão e eu ficava sem entender que sentimento era aquele, entretanto, consegui entender que era só saudade mesmo. Saudade de ser uma garota que não ligava para pagar contar e seu maior drama era não ter roupa para sair com o paquera da época, saudade de escrever em meu diário sobre o quanto estava chateada por não conseguir ajudar minha amiga que estava com depressão. Esse meu diário me acompanhava por todos os cantos e ainda ousava em contar para algumas poucas pessoas que na verdade depois de alguns anos aquilo seria o roteiro de um filme inspirado na minha vida, pois ela merecia ser mostrada para todos. É claro que sempre fui motivo de piada para essas pessoas mas como era apenas uma adolescente tinha noção de que ninguém me compreendia pela idade ou algo assim.
      Sei que mudei, meu coração já não é mais o mesmo, muito menos minha visão de mundo, mas no fundo, bem no fundo, eu ainda via minha vida como um grande filme e sempre quando acontecia alguma história louca tentava buscar alguma música em minha mente para que aquela cena fosse digna de um grande filme, o meu filme.
   

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